quinta-feira, 24 de junho de 2010

O método sociológico em Émile Durkheim

Émile Durkheim (1858 -1917)
Por Francisco Costa

INTRODUÇÃO

A questão do método em pesquisa não iniciou-se (e naturalmente não finalizou-se) após as regras propostas por Emile Durkheim. Contudo, assim como a medicina, a biologia, a geologia entre outras ciências da Natureza desenvolveram seus métodos de pesquisa e este foram desenvolvidos, aperfeiçoados e aprimorados para que o objeto de estudos, assim como diagnósticos ou previsões fossem identificadas, definidas e evidenciadas no sentido de que tais pesquisas chegassem cada vez mais próxima da verdade e da precisão, as ciências humanas também foram, no decorrer dos anos, subsidiadas com instrumentos e mecanismos que indicaram os rumos mais prováveis a serem trilhados para que este setor de conhecimento fosse aperfeiçoando-se. Durkheim, certamente não encerrou os mecanismos de encaminhamento para a melhor forma de pesquisar as ciências humanas, porém não conhecer e não considerar algumas ( há aqueles que acreditam em todos) das principais regras por ele descrita como sendo um caminho correto para obter algumas respostas sobre os diferentes aspectos e situações expostas dentro da sociedade com vista a colocar os estudos sobre a humanidade como elementares para diretrizes políticas, sociais e econômicas desenvolvidas no seio desta; pode ser, no mínimo, um grande equívoco.
A obra “Regras do método sociológico” trouxe, além de algumas polêmicas; as premissas de que as ciências Humanas devem posicionar-se muito além de mero estudo das relações entre os seres dotados de grande Inteligência em nosso planeta, mas sim que tais ciências possam ser apresentadas de forma “clínica” onde, a partir de dados precisos, os pesquisadores aproximem-se da mais perfeita descrição e indicação da verdade social, isto para que os objetivos perseguidos em determinada pesquisa sejam evidenciados com clareza e estejam cada vez mais próximo da razão.
Redigido especificamente para ser apresentado ao grupo de estudos GEPEA o texto aqui descrito terá o propósito de evidenciar a obra de Durkheim - “Regras do Método Sociológico” com o objetivo de colaborar com a reflexão sobre a questão do método como mecanismo fundamental para a compreensão, intervenção e desenvolvimento intelectual característico em toda e qualquer pesquisa. Desde já peço a compreensão de meus companheiros de grupo para os limites de minhas impressões e minhas observações a respeito do tema aqui exposto.

AS REGRAS APRESENTADAS COMO ESSÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO

Após a definição do “Fato Social” como sendo o primeiro instrumentos a ser perseguido em um boa pesquisa, Durkheim descreve cinco métodos á serem perseguidos como definitivos para uma pesquisa social adequada. São eles: Regras relativas à observação dos Fatos Sociais; Regras relativas à distinção entre o Normal e o Patológico; Regras relativas à Constituição dos Tipos Sociais; Regras relativas à explicação dos Fatos Sociais e Regras relativas à Administração da Prova.

DEFINIÇÃO DO QUE É FATO SOCIAL

O primeiro item exposto por Durkheim é a definição sobre o que vem a ser o Fato Social entendendo ser este o principal objeto de pesquisa a ser estudado pela ciência social, considerando, em contraponto, os diversos “atos” sociais como fenômenos que ocorrem mediante tais fatos sociais. Sendo portando interessante identificar o que o filósofo francês descreve como fato social.
Para Durkheim, Fato Social são todas as normas, regras, costumes, crenças, instituições, sistema monetário, jurídicos entre outros; encontradas no meio social existentes anteriormente a qualquer indivíduo. Sendo assim, ele descreve que todos estes fatos são externos ao indivíduo, pré existindo antes mesmo deste indivíduo manifestar-se na sociedade.
Os fatos sociais tem poder de coerção, pois todo indivíduo recebe tal influência sendo condicionado a conviver com tais caracteres sociais previamente constituídos.


DEFINIÇÃO ENTRE O PATOLÓGICO E O NORMAL

É fundamental observar que Durkheim preocupa-se com a definição exposta em qualquer pesquisa entre o que é patológico e o que é normal, descrevendo que tanto um quanto o outro irá ser caracterizado conforme a referência estrutural do que é bom ou do que é ruim em determinada sociedade.
Do ponto de vista sociológico, Durkheim descreve que detectar o que é patológico e o normal pode levar a riscos no mínimo precipitados a qualquer pesquisador dos estudos sociais cabendo a este o cuidado de além de fugir de definições precipitadas não levar-se pelo senso comum e muito menos pelo que se considera dentro deste senso comum, como sendo patológico ou normal. No final deste princípio o cientista descreve “o crime” como sendo um fenômeno normal, pois se o mesmo existe consecutivamente em diversas situações e continuas sociedades , sob vários aspectos e durante todos os tempos históricos esta contravenção cumpre sua função social enquanto agente “regulador” das insatisfações sociais.

CARACTERIZAÇÃO DO TIPO SOCIAL

Na definição do que é tipo social, Durkheim descreve como sendo o núcleo encontrado em toda sociedade ou grupo social. Sendo este o responsável pelas principais “heranças” sociais transferidas de um sistema social ao outro e observado que todo grupo social trás consigo tal núcleo o que o autor denomina ser a espécie social.
Descrevendo que a filosofia apresenta discórdia em relação a história no que diz respeito a questão da “evolução” dos diferentes grupos e sociedades espalhados pelo globo em diferentes épocas da humanidade.

Enquanto a filosofia define evolução como sendo natural perante a inter-relação entre os diferentes povos; a história considera como evolução um “aglutinado” de experiências constante em diferentes povos e assim evoluindo no decorrer dos tempos, o cientista francês descreve que a espécie social é que definirá tais mudanças.
Observado a generalidade dos diferentes povos, mediante sua formação e princípio formador – pequeno grupo que dá origem ao grupo maior (povo) – o pensador descreve que o tipo descrito pela pesquisa deve considerar a espécie inicial de determinada cultura ( que deu origem a uma maior) o caminho essencial para encaminhar um determinado estudo.


SOBRE A EXPLICAÇÃO DOS FATOS SOCIAIS

É interessante perceber (em relação aos fatos sociais) que existem fatos que não podem ser avaliados segundo sua utilidade, pois o fato de ser útil não significa que ele existe. Esta afirmação, aparentemente confusa, pode esclarecer o que Durkheim aponta como sendo equívocos considerado por sociólogos, inclusive citando as obras de Comte e Spencer onde o ser humano é apresentado como ser voltado ao progresso e ao seu desenvolvimento pessoal (Comte); ou ser que persegue constantemente a felicidade (Spencer). Tais pressupostos apresentam a questão da utilidade como sendo propicia do fato social o que caracteriza a existência do mesmo. Para Durkheim esta afirmação é equivocada pois muitos fatos foram criados e herdados de civilizações diversas e permanecem intactos sem que sua utilização signifique a sua existência, pois estes foram mantidos em função do Hábito mas não cumprem neste instante sua função social por serem dispensáveis a convivência social.

Outra questão relativa aos fatos está na consideração de elementos psíquicos individuais como consequências de fenômenos coletivos. Separar estes princípios é essencial pois a consciência coletiva não pode ser descrita a partir dos princípios individuais. A associação social se dá por motivos privados e instintivos de cada indivíduo, porém o interesse pessoal não é o mesmo que o interesse coletivo e as aspirações sociais devem ser analisadas segundo a subjetividade humana coletiva. Os anseios da sociedade, em geral são diferentes dos interesses privados de cada um, porém a sociabilidade trás consigo interesses próprios.

Sendo o fenômeno social o processo de interação, associação, aversão e incorporação dos fatos sociais por indivíduo, não é correto afirmar que um estudo possa ser efetuado com base em um indivíduo sem considerar que as mudanças somente ocorrem mediante as transformações ocorridas no seio de um grupo social do qual tal indivíduo pertence. Sendo assim será errôneo afirmar que fatos sociais seguem um modelo único e que os fenômenos possam ser somados uns aos outros em sentido único como propôs Comte. Os fenômenos devem ser observados de forma independente.

Durkheim define sua descrição de interação como um processo natural de coerção social, onde, independente de motivações autoritárias ou mesmo programadas (Hobbes, Rousseau) ele aponta o espírito de disciplina como a condição natural de toda vida em comum..
A moda também é um fato social

SOBRE A ADMNINISTRAÇÃO DAS PROVAS

Em relação a comprovação de suas pesquisas, cabe ao cientista social, segundo Durkheim, utilizar-se do “Método das Variações Concomitantes” segundo o qual a comparação entre os fenômenos sociais se dá mediante a observação, análise e principalmente a comparação dos fatos ocorridos por diferentes espécies sociais em diferentes momentos históricos.

Após uma análise sobre causalidade, com a discussão de que existem segmentos científicos que discordam em relação a identificação entre causa e efeito, Durkheim descreve que diferentes causas podem ocasionar em diferentes efeitos, porém não associar os efeitos as causas é um grande equívoco e que, para as ciências sociais a quantidades de causas pesquisadas não é necessariamente o que torna precisa a pesquisa, mas sim o estudo desta (causa) em diferentes momentos históricos. Sobre diversos aspectos e observando os fenômenos sociais por ângulos e gerações diferentes é que será possível caracterizar as semelhanças ou diferenças do objeto pesquisado, sendo possível lhe atribuir ou não um mesmo sentido.
Segundo este método a comparação efetuada sobre fenômenos e fatos de diferentes momentos, atrelado as causas que o procederam dará ao pesquisador evidências de sua manutenção, progresso ou regressão.


Principais obras
• Da divisão do trabalho social, 1893;
• Regras do método sociológico, 1895;
• O suicídio, 1897;
• As formas elementares de vida religiosa, 1912;

Nenhum comentário:

Postar um comentário